terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Alívio Vazio



É sentindo nada que se descobre o por quê.
É com a mente oca que encontra o ideal

de que o bom é ser cheio de mundo.


É caminhando sem rumo
que se vê o destino
certo ou errado,
qualquer um,
apenas aquele que precisa ser.

Sem voz de conselho, perco mil vezes

E acredito estar certa.


Sem disposição de encontrar nada além do bonito,

quando me bate a porta o incomodo

largo os olhos e permito-me esvaziar.


O Eu comigo talvez

Quase encontrando um ponto final.

Para tentar haver um novo meio
ou uma continuação tão permitida quanto

minha ânsia por ser grande
.

E o que dizer sobre o que não quero?

Abstenho-me do cansaço da tristeza

e corro para a percepção do que não me comove.


Perto do que não foi,
tenho a sensação de simplesmente ser.

Viajo nessa poesia de muitos quereres,

e sem adivinhar o percurso,

fecho os olhos e agradeço.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Anasalada


Parece chafariz quando não se suporta em si
tem vista de chamariz quando não parece relutar.
É vital,
e fatal.

Respiração ofegante quando se deita,
alívio no estar em pé,
quase devoção por voltar ao natural
e quando menos se espera,
lá está o empecilho segurando o ar.

Vermelho para os não saudáveis,
lembranças de um minuto sem respirar.
E como ciclos, só se nota sua existência e importância
quando afinal, não se pode saber quem é o que
dentro de partes que não se enxergam .

Paralisado por um impulso externo,
esse religar com o odor
parece reanimar todos os outros sentidos,
e com força total, por segundos cheirosos,
sente-se uma pseudo explosão tântrica
que capta até o mais absoluto do instante.

E fim...
tudo voltou para o antes.
Após um espasmo de consciência nasal,
tudo parece como água e
no meu mundo inodoro,
espremo o resto para apalpar o fedor.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Nada é Muito


Nada me sai,
Nem sequer um assobio silencioso pra disfarçar
Nem uma palavra muda pra aquecer

Nada me escapa
Nem eu, nem você, nem qualquer vulto
que tente se esconder com medo do meu julgar incoerente

É tudo pesado, quase não consigo carregar
Meus ombros estão curvados
e mais consigo catar temores do que soltar desilusões

Uma névoa de calmaria rodeia meu estar
E com a mente vazia, sem uma emoção acesa
caminho para casa e continuo escutando os ecos do mundo

Mais fácil assim nesses tempos de insensatez
seguir sem acreditar nas peripécias da mente
pois nem ela sabe como me guiar

Do lado de fora parece tudo mais sólido
Mais palpável de se deixar levar
Vou buscar a música pra me esquecer

Vou viver o mundo pra não parar de andar...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Rindo de Mim


Nada me vem, além disso!
Estou satisfeita na medida do possível com o meu umbigo,
afinal, seria uma insensatez dizer que o meu redor está progredindo.

Aos poucos tudo se acomoda,
Já me disseram isso diversas vezes e eu percebi que é melhor acreditar.
Gosto de como estou sentindo esse calor cheio de suores
Sorrio para os acontecimentos extraordinários e por vezes ordinários.

Acho que meus pés estão caminhando concisos nesse instante
mas melhor não compará-los ao andar (a)temporal do relógio.

Estou orgulhosa das minhas mãos,
mais ainda do meu pensar perspicaz que as conduz.
É! Estou começando a acreditar que aquela luz pequena
escondida entre o vão da maçaneta é uma saída em potencial...
Ou será a entrada para um novo beco?

Hum! Posso até teimar com uma certa distância de que hoje vai dar tudo errado
E eu vou rir...
Não estou mais com paciência de levar as tristezas tão a sério

Pode ser tudo invenção daquela parte racional, mas funcionando até que está,
por isso só me resta continuar...
Mas tem algo mais íntimo, onde essa razão não alcança
que me deixa leve. Que me deita desnuda sem medo de errar

Aquele sentimento piegas, meio intraduzível e boçal
que leva poetas a loucuras e homens a humilhação;
É ele que está se tratando de me tratar bem.
Até quando?
Até a próxima eloqüência estúpida sem fundamento aparecer.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mulherzinha


Tenho uma essência de Mulherzinha

Que quer e não quer ao mesmo tempo
Que sonha e olha em volta quando está no caminho de casa
Que vê um futuro lindo e não sabe dar um próximo passo.

Mas, o melhor ou pior é que nessa mesma essência mora um outro alguém
E que sabe que tudo passa, tristezas, alegrias e tudo que tiver no tempo presente

É um quase de desapego racional
Com a promessa de não se pregar em nada que possa escapar,
sumir ou ferir...
É também um jeito de assegurar a paz,
Afinal, não me adianta chorar o passado que não é capaz de voltar
Não adianta sofrer o desencanto que não pode mais brilhar.

Olho pra frente, com esses olhos do outro alguém e vejo
um “muro” que separa eu de minhas mágoas
Melhor assim...
Prefiro acreditar que não posso sentir o que não lembro,
e não posso lembrar o que não vejo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O passado que não serve pro futuro


Andam dizendo desde que nasci
Que somos seres sugadores de tudo que nos oferecem.

Às vezes roubamos essa quase completude do outro
e traduzimos para o nosso Eu como parte de um
quebra-cabeça semi-pronto que temos por dentro.

Ou então, como se fosse um líquido,
essa informação escorre sobre os espaços vazios
da mente e penetra nas partes faltantes que
estão esperando para serem conectadas.

Mas, e quando tudo dessa sucção é insuficiente até
onde deveria servir com perfeição?

Fica um vazio de passado, como se o vivido
não tivesse tido a importância que teve.
É como se tudo ficasse esburacado
sem matéria para tampar os espaços,
por que naquele momento eu deveria ter sugado mais.

É um arrependimento sem piedade que chega e derruba o ego.
Que me faz sentir caminhar para trás.
Que me faz olhar para frente e não enxergar.

A possibilidade de enfrentar esses buracos do presente
me congela como uma incompetência explicita que é
colada na minha testa e parece estar à vista
de todos que me olham.

É... Falhei!

Agora vou sair quieta, com a consciência de que
meu erro teve uma conseqüência real.
De que pôde ser diferente e eu fiz ser igual.

Arrependimento passa!
Mas olhar pra ele só me faz crer o quão tolo fui
O quão tolo vou-me sentir ser.

Estou aqui esperando...
Assim como passou aquele, vai passar este, e o outro, e o seguinte...
Até eu encontrar um novo equívoco escondido nos atos covardes,
Misturados nas peças embaralhadas,
Escorridos nos buracos errados,
Enfraquecido diante do hoje e omitido no tempo do depois.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Meio Eu


Ontem foi o último dia daquela fase
Quando fechei os olhos, senti um calafrio seguido de um alívio poderoso.
As dores nas costas, de tanto peso de consciência, se foram...
Minhas horas de sono intermináveis se viram aparentemente livre de reprovação.

Foi uma fase pequena e intensa, no mais, cinco minutos de fobia, que pareceram uma eternidade.
Mas, se foi...
E foi com ela uma montanha de sentimentos enclausurados,
Um mar de sensações imprevisíveis
O céu de tamanho medo.

Virei pro lado e reparei nas minhas pernas entrelaçadas e nos braços debaixo do travesseiro fino
e vi que ainda era eu em cima de um colchão macio.
Reparei que aquela voracidade toda, era delicada até nos traços do meu umbigo.

Não entendi mais nada...

Tinha me transformado em alguém grande há um minuto e meio atrás, mas, me via como uma criança coberta pelo frio, novamente.
Minha mente começou, então, a borbulhar sem sentido.

Nada mais parecia compatível a minha imagem e
ao meu ser real.
Era uma discrepância quase intolerável pela qualidade de ser humano.
Mas depois de alguns experimentos incoerentes, consegui achar-me nua, cheia de temores, escondida atrás da minha carne.

Como uma tentativa surreal de entender toda essa performance,
fingi-me de morta até que meus olhos captaram a imagem de um local úmido
e meus ouvidos foram obrigados a exigir da minha concentração um ápice de desempenho para alcançar um sussurro das evidências implícitas.

Nada mais tinha sentido...

Assim como as palavras de descrição, o instante era tão paradoxo que se tornou intraduzível.
Sem poesia talvez, ou cheio dela entre as camadas da parede descascada.

Sem sentir, voltei-me novamente para as pernas agora erguidas, com os braços sobre o peito e mergulhei num próximo sonho.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pra Lá Do Espelho


Impossível não se reconhecer velho,
Idoso de espírito, de palavra, de tempo.

Não deveria caber aos outros a voz da própria chegada,
Cada si tem de ter seu ponto final como evidente.

O mais triste é não aceitar seu espelho
Quando a moldura não cabe mais,
e o prego não fixa como antes...

...Quando se vê que é hora de terminar,
hora de mudar para outro tempo que combine
com seus passos já lentos pela experiência.


Tente encarar, enxergue o reflexo da sua face nua,
deixe que o presente cuide da ânsia pelo futuro,

E acredite, somos todos substituíveis!

domingo, 7 de setembro de 2008

Máquina de Estalactite


Produzindo o máximo de lucro que um ser pensante pode com seu tempo escasso,
a pressão do relógio bate seu ponteiro insistente
rasgando meus ombros cheios de responsabilidades alheias.

Não sei como parar!

Meu cérebro fabricado para consumir tudo que lhe acha belo, reclama que o combustível está abaixo do permitido e começa a fundir outras peças vitais do meu eu,
gerando um intenso mau humor.

Minhas buscas então, começam a resumir-se em tudo que não é real
nessa bolha mundana em que vivo.
De qualquer forma, tento acelerar minhas passadas,
pois ouvi dizer que a vida é muito curta e
posso perder até o meu próprio fim.

O dinheiro torna-se um medidor de qualidade humana
e quanto maior é minha habilidade de produzi-lo e multiplicá-lo,
menos ilusões e fracassos irei encontrar pelo caminho.

Mas na verdade, pretendo ir embora pra outro lugar!

A idéia de não poder ser completa com a simplicidade,
de ter que ter muito para ser medíocre,
de produzir sem parar e não conseguir parar pra pensar,
Não me deixa viver bem por aqui.

Devo ter nascido em outro mundo!

Me cansa a idéia da minha imagem ser meu cartão de visita e
não quero perder minha poesia aflita por não poder perder tempo.

E por isso, meu estado de ser se tem
permanentemente exausto e pessimista, afinal,
não pertenço nem ao meu passado inexperiente
e nem ao meu futuro incerto.

Sem tempo, meus segundos se tornam muito mais que inimigos, são como minha sombra que n
ão larga meu pensar
nem quando estou descansando encostada no ponto de ônibus.

sábado, 30 de agosto de 2008

Mais do Igual


Mesmo, replay, dejavu,
Um pouco mais do igual paira sobre meu dia.
Expectativas soltas para o futuro
regem planos e metas de um presente análogo.

O vício de viver o depois é o que constrói
Meu imediato
E não me comove quando me olho perdida
e não encontro se quer o meu antes.

Sorrisos soltos e imagéticos surgem perturbando
meu senso de continuidade
E aceito passiva,
qualquer inércia que me deixe bem próximo
a algum lugar aparentemente seguro.

Roubando no meu próprio jogo,
Sigo infringindo regras, pulando casas e
Enganando minha sombra

Mas o pensamento continua semelhante...

...Porque no futuro tudo será como não é
Tudo pertencerá ao que não convém agora
E eu então,
Não precisarei mais de mim...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Imagem Travessa


Meu espelho mostra o contrário de mim
Meus dedos tortos apontando pro infinito,
minhas pupilas olhando pro lado errado.

Esquerda, direita, tudo trocando de sentido,
Parece que estou indo ao meu encontro.

Estranho esse jeito de me ver.
O lado de lá sempre segue o meu de cá,
Me injurio por um segundo, preciso de paz!
Chega de um outro de mim

Largo a mão, finjo não querer saber, nem notar
Mas na verdade, Ah! Como me incomoda!
Até esqueço o que eu estava fazendo antes,
e invento um novo afazer para mentalizar,
Mas nada...

Segurem minha paciência, que eu estou aflito!
Corte minha absurda certeza de estar
consciente e me faça gargalhar.

Vamos lá! Mais uma tentativa...
Olho pra o outro lado tentando enganá-lo
Tento uma nova tática, como se estivesse
Procurando mais uma parte de mim

Ouço vozes pedindo atenção para o
início de um diálogo,
Estou estática, são tantas palavras me rodeando
que me sinto atordoada.
Não sei bem por onde começar

Tento fixar o olhar e agora parece que
O mundo balança,
mas que raio de brisa é essa?
Me concentro mais uma vez...

Putz! Chegamos...
E meu eu do avesso não para de me enganar!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fome


Me diga algo que eu não sei.
Me envolva e me deixe entorpecida
por sua voz muda
E então, Se esqueça, Se perca e
viva um pouco do meu eu.
Sinta minha pulsação, minha respiração ofegante,
Meu transe.

Me tira de mim, me tira daqui,
Quebre meu passo compassado,
Exploda as minhas rédeas
e me deixe nua sofrendo por nós dois.

Aqui, ainda estou, de corpo e alma
aclamando por seu pêlo
sem montar ilusões nem cortesias

Esperando seu toque,
seu olhar frio que me convence,
sua mão gélida que me acalma.
E por fim,
Seu poder de roubar, de uma em uma,
todas as partícula de mim
sem que eu sequer consiga questionar o porquê.

Porém,
Só não me canse, não me enoje e não me guarde
em um dos seus esconderijos rubros
que não pertenço
E não quero pertencer.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mantra


Desço da cama, abro a janela junto com os olhos ainda fechados pra luz. O dia se movimenta rápido me deixando meio atordoada.

Respiro fundo, e penso qual o melhor jeito de começar. No banho, forço o despertar com a tentativa frustrada da meditação do Revigorar e depois de me vestir, vou a procura de uma fruta para melhorar a saúde.

Saio de casa com a garrafa cheia de água e caminho respirando o ar mais puro que uma avenida pode me proporcionar. Espero o farol fechar, paciente, afinal nada vai conseguir parar o relógio, olho uma senhora ao lado, pensando se ela vai conseguir chegar até o outro lado a tempo, tento me focar no futuro, mas chego a única conclusão de que não quero ser igual a ela.

As coisas continuam e vão passando, e com meus passos apressados, esqueço de observar o mundo ao meu redor. Bastante introspectiva estão minhas manhãs, meu mundo interior parece bem maior que o som desse lugar barulhento, não me lembro quantas esquinas atravesso ou quem foi a primeira pessoa que encontrei.

E quando acordo de mim, acho tudo esquisito, sem as cores fortes de antes, e mesmo de óculos ainda não enxergo perfeitamente o fim da rua.

Perdi a chegada. Perdi o rumo.

Até tentei no começo, ser diferente, olhar diferente, mas de novo, me esqueci. Esqueci que estava tentando e virei eu mesma esquecida de tudo.

Meu mantra falhou novamente.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Formigando


Do outro lado da janela sinto meus dedos congelados pelo frio cortante,
corro em volta de mim mesmo, tentando perceber se pertenço a esse mundo esquisito, de formas fajutas, semi loucas, com aparência engomada.

Nessa noite sem lua, caminho com um livro na mente, buscando ser o que não vejo nesse universo pichado de escritos sem passado. Me encho desse mundo, me completo nesse espaço hostil, e tenho a mesma imagem preconceituosa que criticava antes de cruzar o portão de ferro.

Sinto-me pronta pra essa força hipócrita, tão suplicante e firme que quase me vejo como heroína, sem nenhum medo de perder ou errar. Confiante como se tivesse nascido para aquilo fazer, esqueço do resto, de tudo, meu "quase nada" mundo.

Quando desço as escadas, ainda com a ansiedade vibrante, com a mesma energia intensa e pesada, me acho Tudo. E quando o trem para, eu desço, vou vagando e voltando ao meu mundo morno, com passos inexperientes de ideais, desatentos e esquecidos de maldade, olho pro lado e vejo meu reflexo na poça quase do tamanho de uma formiga, volto a me sentir um grão.

Me vem o cansaço, a exaustão da energia carregada de um dia semi-intenso, as memórias da rotina, me aparece a vontade de não-ser, a carência de um fraco, como se toda a força tivesse esvaziada e sumido pelo caminho até o elevador.

Sinto-me mais humana, e mais segura. Lá, me sentia preparada de frente pra um abismo. Consigo me ver dupla. Uma metade quer ser livre, viver no mundo, pelo mundo, atrás do infinito sem saber se existe; a outra, vive pro amor ao mundo, sentindo um pedaço do mundo, tentando não ultrapassar a barreira da lembrança.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Do Lado de Lá


Podia entender como é olhar para o lado e ver um paraíso próximo, mas fica difícil quando se tem uma venda translúcida que peca os olhos. Os medos ficam aguçados por você não saber onde é o fim nem o começo, o chão parece de papel e qualquer passo em falso pode ser uma cicatriz, o céu parece o mar, envolto de ondas que mais me tentam enganar.

E o toque? Como percebê-lo? Qual é o limite para não se ferir, qual é o começo para não voltar pra trás? Depois da mureta, pode vir um abismo, ou não. Escolher é a única maneira de continuar. Mas isso pode levar a consequências tão momentâneas quanto as palavras falsas de nossos não pensar.