segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Formigando


Do outro lado da janela sinto meus dedos congelados pelo frio cortante,
corro em volta de mim mesmo, tentando perceber se pertenço a esse mundo esquisito, de formas fajutas, semi loucas, com aparência engomada.

Nessa noite sem lua, caminho com um livro na mente, buscando ser o que não vejo nesse universo pichado de escritos sem passado. Me encho desse mundo, me completo nesse espaço hostil, e tenho a mesma imagem preconceituosa que criticava antes de cruzar o portão de ferro.

Sinto-me pronta pra essa força hipócrita, tão suplicante e firme que quase me vejo como heroína, sem nenhum medo de perder ou errar. Confiante como se tivesse nascido para aquilo fazer, esqueço do resto, de tudo, meu "quase nada" mundo.

Quando desço as escadas, ainda com a ansiedade vibrante, com a mesma energia intensa e pesada, me acho Tudo. E quando o trem para, eu desço, vou vagando e voltando ao meu mundo morno, com passos inexperientes de ideais, desatentos e esquecidos de maldade, olho pro lado e vejo meu reflexo na poça quase do tamanho de uma formiga, volto a me sentir um grão.

Me vem o cansaço, a exaustão da energia carregada de um dia semi-intenso, as memórias da rotina, me aparece a vontade de não-ser, a carência de um fraco, como se toda a força tivesse esvaziada e sumido pelo caminho até o elevador.

Sinto-me mais humana, e mais segura. Lá, me sentia preparada de frente pra um abismo. Consigo me ver dupla. Uma metade quer ser livre, viver no mundo, pelo mundo, atrás do infinito sem saber se existe; a outra, vive pro amor ao mundo, sentindo um pedaço do mundo, tentando não ultrapassar a barreira da lembrança.

Nenhum comentário: