sábado, 30 de agosto de 2008

Mais do Igual


Mesmo, replay, dejavu,
Um pouco mais do igual paira sobre meu dia.
Expectativas soltas para o futuro
regem planos e metas de um presente análogo.

O vício de viver o depois é o que constrói
Meu imediato
E não me comove quando me olho perdida
e não encontro se quer o meu antes.

Sorrisos soltos e imagéticos surgem perturbando
meu senso de continuidade
E aceito passiva,
qualquer inércia que me deixe bem próximo
a algum lugar aparentemente seguro.

Roubando no meu próprio jogo,
Sigo infringindo regras, pulando casas e
Enganando minha sombra

Mas o pensamento continua semelhante...

...Porque no futuro tudo será como não é
Tudo pertencerá ao que não convém agora
E eu então,
Não precisarei mais de mim...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Imagem Travessa


Meu espelho mostra o contrário de mim
Meus dedos tortos apontando pro infinito,
minhas pupilas olhando pro lado errado.

Esquerda, direita, tudo trocando de sentido,
Parece que estou indo ao meu encontro.

Estranho esse jeito de me ver.
O lado de lá sempre segue o meu de cá,
Me injurio por um segundo, preciso de paz!
Chega de um outro de mim

Largo a mão, finjo não querer saber, nem notar
Mas na verdade, Ah! Como me incomoda!
Até esqueço o que eu estava fazendo antes,
e invento um novo afazer para mentalizar,
Mas nada...

Segurem minha paciência, que eu estou aflito!
Corte minha absurda certeza de estar
consciente e me faça gargalhar.

Vamos lá! Mais uma tentativa...
Olho pra o outro lado tentando enganá-lo
Tento uma nova tática, como se estivesse
Procurando mais uma parte de mim

Ouço vozes pedindo atenção para o
início de um diálogo,
Estou estática, são tantas palavras me rodeando
que me sinto atordoada.
Não sei bem por onde começar

Tento fixar o olhar e agora parece que
O mundo balança,
mas que raio de brisa é essa?
Me concentro mais uma vez...

Putz! Chegamos...
E meu eu do avesso não para de me enganar!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fome


Me diga algo que eu não sei.
Me envolva e me deixe entorpecida
por sua voz muda
E então, Se esqueça, Se perca e
viva um pouco do meu eu.
Sinta minha pulsação, minha respiração ofegante,
Meu transe.

Me tira de mim, me tira daqui,
Quebre meu passo compassado,
Exploda as minhas rédeas
e me deixe nua sofrendo por nós dois.

Aqui, ainda estou, de corpo e alma
aclamando por seu pêlo
sem montar ilusões nem cortesias

Esperando seu toque,
seu olhar frio que me convence,
sua mão gélida que me acalma.
E por fim,
Seu poder de roubar, de uma em uma,
todas as partícula de mim
sem que eu sequer consiga questionar o porquê.

Porém,
Só não me canse, não me enoje e não me guarde
em um dos seus esconderijos rubros
que não pertenço
E não quero pertencer.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mantra


Desço da cama, abro a janela junto com os olhos ainda fechados pra luz. O dia se movimenta rápido me deixando meio atordoada.

Respiro fundo, e penso qual o melhor jeito de começar. No banho, forço o despertar com a tentativa frustrada da meditação do Revigorar e depois de me vestir, vou a procura de uma fruta para melhorar a saúde.

Saio de casa com a garrafa cheia de água e caminho respirando o ar mais puro que uma avenida pode me proporcionar. Espero o farol fechar, paciente, afinal nada vai conseguir parar o relógio, olho uma senhora ao lado, pensando se ela vai conseguir chegar até o outro lado a tempo, tento me focar no futuro, mas chego a única conclusão de que não quero ser igual a ela.

As coisas continuam e vão passando, e com meus passos apressados, esqueço de observar o mundo ao meu redor. Bastante introspectiva estão minhas manhãs, meu mundo interior parece bem maior que o som desse lugar barulhento, não me lembro quantas esquinas atravesso ou quem foi a primeira pessoa que encontrei.

E quando acordo de mim, acho tudo esquisito, sem as cores fortes de antes, e mesmo de óculos ainda não enxergo perfeitamente o fim da rua.

Perdi a chegada. Perdi o rumo.

Até tentei no começo, ser diferente, olhar diferente, mas de novo, me esqueci. Esqueci que estava tentando e virei eu mesma esquecida de tudo.

Meu mantra falhou novamente.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Formigando


Do outro lado da janela sinto meus dedos congelados pelo frio cortante,
corro em volta de mim mesmo, tentando perceber se pertenço a esse mundo esquisito, de formas fajutas, semi loucas, com aparência engomada.

Nessa noite sem lua, caminho com um livro na mente, buscando ser o que não vejo nesse universo pichado de escritos sem passado. Me encho desse mundo, me completo nesse espaço hostil, e tenho a mesma imagem preconceituosa que criticava antes de cruzar o portão de ferro.

Sinto-me pronta pra essa força hipócrita, tão suplicante e firme que quase me vejo como heroína, sem nenhum medo de perder ou errar. Confiante como se tivesse nascido para aquilo fazer, esqueço do resto, de tudo, meu "quase nada" mundo.

Quando desço as escadas, ainda com a ansiedade vibrante, com a mesma energia intensa e pesada, me acho Tudo. E quando o trem para, eu desço, vou vagando e voltando ao meu mundo morno, com passos inexperientes de ideais, desatentos e esquecidos de maldade, olho pro lado e vejo meu reflexo na poça quase do tamanho de uma formiga, volto a me sentir um grão.

Me vem o cansaço, a exaustão da energia carregada de um dia semi-intenso, as memórias da rotina, me aparece a vontade de não-ser, a carência de um fraco, como se toda a força tivesse esvaziada e sumido pelo caminho até o elevador.

Sinto-me mais humana, e mais segura. Lá, me sentia preparada de frente pra um abismo. Consigo me ver dupla. Uma metade quer ser livre, viver no mundo, pelo mundo, atrás do infinito sem saber se existe; a outra, vive pro amor ao mundo, sentindo um pedaço do mundo, tentando não ultrapassar a barreira da lembrança.